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Centro comercial no Fundão convertido em polo de envelhecimento ativo

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O filme da vida alterou-se e no local onde há anos via cinema no Fundão, Álvaro Vaz, 80 anos, faz hoje exercícios de estimulação física e cognitiva, com a ajuda da equipa multidisciplinar do Memo Move, para ajudar nos desequilíbrios.

O antigo contabilista, com uma vida dinâmica, sempre ligada ao associativismo e fundador dos Caminheiros da Gardunha, vê-se agora condicionado e apoiado numa bengala, mas vai exercitando o corpo e a mente para não se render à armadilha do sofá.

O Memo Move, proposta de Catarina Rondão, a coordenadora, no âmbito de um doutoramento, nasceu há quatro anos, como projeto-piloto, mas há um ano, para alargar a resposta, mudou-se para o segundo piso do Centro Comercial Cidade Nova, que a Câmara do Fundão adaptou e é agora frequentado por mais de mil pessoas nas sessões individuais e na nova vertente, a Zona de Autonomia e Bem-Estar, um espaço comunitário para se socializar, em simultâneo com os estímulos físicos e cognitivos.

Na antiga sala de cinema, com uma imagem das cerejeiras em flor na parede onde antes estava o grande ecrã, multiplicam-se os alteres, escadas de agilidade, cones, ‘steps’, elásticos, aros e vários objetos para tarefas motoras, onde se trabalha para retardar a perda de capacidades.

Patrocínia Honorato, 72 anos, teve um AVC há dois anos e João Henriques, um dos técnicos de exercício físico, pede-lhe para dizer nomes de mulheres e de frutas enquanto executa um circuito, depois aumenta a dificuldade, com a plasticina na mão tem de fazer bolas à medida que avança, o percurso não é linear e é-lhe pedido para contar ao mesmo tempo para trás, ou de dois em dois, para treinar a velocidade de reação.

Quando Patrocínia hesita, João incentiva. “Se não consigo, fico arreliada comigo, mas tento melhorar”, diz a fundanense, que se sente melhor desde que começou a fazer as duas sessões semanais. “Saio de cá sempre melhor e, enquanto venho aqui, saio de casa”, realçou, em declarações à agência Lusa.

 Numa sala ao lado, a psicóloga exercita funções como a memória, a motricidade, a rapidez de pensamento, a atenção e há programas informáticos para treinar o cérebro.

As avaliações feitas permitiram confirmar os “benefícios efetivos nas pessoas acompanhadas”, sublinhou a vereadora com o pelouro da Ação Social e da Saúde, Alcina Cerdeira, o que respaldou a intenção de o município alargar o espetro da oferta e pretender introduzir mais respostas.

Num concelho com um índice de envelhecimento de 321, a preocupação com o envelhecimento ativo e saudável é uma constante da autarquia, afirmou a vereadora Alcina Cerdeira, que olha para o Centro Neuromotor Memo Move como o chapéu onde quer acolher outros projetos do concelho, como os itinerantes.

A procura de soluções para proporcionar qualidade de vida aos mais velhos e evitar as respostas tipificadas, que considera já não servirem, tem sido uma demanda, frisou a autarca, que deu o exemplo do desafio feito às empresas de tecnologia locais para criarem ‘exergames’ e programas que ajudem a ir por caminhos mais adequados.

No Memo Move trabalha-se para a autonomia das pessoas, retardar a necessidade de entrar em instituições e a prevenção de sinais de patologias.

Para alocar mais recursos e meios, Alcina Cerdeira adiantou estar a ser feita uma candidatura ao programa Portugal Inovação Social, para que a nutrição e o sono passem a ser vertentes do Centro Neuromotor, que tem como parceiro científico a Universidade da Beira Interior.

“O Memo Move pretende sobretudo trabalhar os pilares da qualidade de vida: o exercício físico, a estimulação cognitiva, a parte social, a nutrição e o sono. Conseguimos ter três pilares a funcionar em pleno”, explicou à Lusa a coordenadora, Catarina Rondão, que deseja ter técnicos para “dar uma resposta mais completa”.

O objetivo inicial foi alargado e, além das sessões individualizadas em função das patologias e capacidades físicas e cognitivas dos utentes, as duas sessões semanais, nas tardes de terças e quintas-feiras, destinadas ao trabalho grupal, para que as pessoas convivam e “saiam de casa com um propósito”, têm dado resultados.

São feitos exercícios, mas também atividades várias, com parceiros, de literacia em diferentes áreas, sempre surpresa, o que contribui para a muita adesão, “porque as pessoas nunca sabem para o que vêm e isso gera curiosidade”, acrescentou Catarina Rondão.

A investigação não é descurada e permite retirar conclusões e perceber se é necessário alterar a forma de intervenção. A utilização da tecnologia ajuda a motivar e permite quantificar o trabalho realizado, avaliar a condição em que as pessoas chegam, como estão passados seis meses e perceber que “as capacidades foram melhoradas”.

Alcina Cerdeira destacou o papel “inovador” do Memo Move, a “abordagem multidisciplinar” e a importância de apostar na prevenção e ter este medicamento alternativo ou complementar à disposição, gratuitamente.

Notícias do Centro | Lusa

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