O secretário-geral do PCP sublinhou hoje que o seu partido não aceitará que “condenem o interior”, criticando as “lágrimas de crocodilo” do Governo sobre a sua desertificação e apelando a que se avance com a regionalização.
Num discurso na sessão de abertura das jornadas parlamentares do PCP, que decorrem entre hoje e terça-feira na Serra da Estrela, Paulo Raimundo considerou “importante deixar bem claro que a desertificação e o défice demográfico não são inevitáveis”.
“É necessário, possível e urgente criar as condições para que as pessoas possam e devam continuar a viver no interior”, sustentou.
Numa crítica ao Governo, o dirigente do PCP salientou que “não vale a pena vir com o argumento de que há poucas pessoas para justificar o encerramento de serviços públicos, quando é precisamente a política de direita, essa política de encerramentos, que provoca a saída das populações do interior”.
“Se o caminho é a desindustrialização, cortes nos apoios à agricultura familiar, encerramento de escolas, maternidades e extensões de saúde, postos da GNR, estações dos CTT, (…) de que servem as lágrimas de crocodilo e os lamentos hipócritas sobre a desertificação e o interior?”, questionou.
Para Paulo Raimundo, “o interior não está condenado”: “Não está e não aceitamos que o condenem”, acrescentou.
Entre as medidas que elencou para valorizar o interior – e que incluem o reforço do SNS, da escola pública e da agricultura -, o secretário-geral do PCP defendeu também que se deve avançar, “de uma vez por todas, com a regionalização”.
“É este o caminho e não o caminho que está em curso de transferência para as autarquias locais de encargos em áreas e competências que só o Estado pode e deve assegurar”, salientou.
Paulo Raimundo sustentou que é necessário dar “de facto ao poder local os meios que a Constituição consagra, para que seja capaz na resolução dos problemas das populações”.
Abordando depois a região da Serra da Estrela – quase um ano depois de um incêndio ter fustigado a região, consumindo cerca de 24 mil hectares -, Paulo Raimundo criticou as promessas do Governo.
“Muito se fala sobre incêndios, muitas medidas e apoios para a floresta e sua defesa contra incêndios são anunciados (…), mas o que é certo é que continuam a faltar medidas estruturais”, criticou.
Antes, a líder parlamentar do PCP, Paula Santos, tinha também considerado que, após o incêndio de agosto do ano passado, “não faltaram anúncios e promessas da parte do Governo”, aludindo também às palavras da ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, segundo a qual o incêndio “seria uma oportunidade” para se reconstruir a serra.
“Importa perceber o que foi feito e o que está por fazer. O que foi feito na recuperação da área protegida? Que apoios foram atribuídos aos pequenos produtores, pequenos agricultores? Que medidas foram tomadas para não perder o potencial produtivo?”, questionou.
Segundo a líder parlamentar do PCP, esse será um dos aspetos que o PCP pretende abordar nestas jornadas parlamentares.
De manhã, Paula Santos visitou o Museu de Lanifícios, integrado na Universidade da Beira Interior (UBI), na Covilhã, situado no antigo local da Real Fábrica de Panos, uma manufatura de Estado que funcionou entre 1764 e 1886, e foi construída no âmbito da política económica do Marquês de Pombal.
Composto por vários vestígios arqueológicos – entre os quais fornalhas e caldeiras que compunham a tinturaria -, máquinas da época e explicações históricas, o museu divide-se entre núcleos consagrados à Real Fábrica de Panos, Real Fábrica Veiga e Râmolas do Sol.
No discurso na sessão de abertura, Paula Santos salientou que o museu é um “fabuloso património”, que faz parte “da identidade e das vivências das comunidades locais”, que demonstra “o valor, o conhecimento, mas também as perspetivas de desenvolvimento” da região.
Comentários