A Igreja Matriz de Santa Maria da Feira tem em exibição aquela que a paróquia aponta como “a única réplica em Portugal do Santo Sudário”, manto que, segundo a doutrina católica, envolveu Cristo após a sua morte.
O sudário original está em depósito na Catedral de Turim, mas, pontualmente, a Comissão Diocesana para a Síndone, na mesma cidade italiana, manda confecionar cópias da peça e uma dessas foi adquirida pela Comissão da Capela de Nossa Senhora de Campos por cerca de 3.300 euros – graças a vários donativos por parte da comunidade de Santa Maria da Feira, no distrito de Aveiro.
A réplica foi depois doada à Paróquia de São Nicolau da Feira, em março de 2020, mas, devido às restrições impostas pela pandemia de covid-19, só agora pode ser apreciada pelo público, no âmbito de uma mostra que, até 31 de maio, reúne na também chamada Igreja dos Loios não apenas o sudário, mas ainda várias publicações sobre a relíquia, inclusive sobre os estudos e procedimentos realizados por diversas entidades para avaliar a sua autenticidade.
A curadoria da exposição cabe ao historiador local Roberto Carlos Reis, que declarou à Lusa que, “tanto quanto se sabe, essa é única réplica do Santo Sudário existente em igrejas portuguesas”.
À guarda da Catedral de Turim desde o século XIV, mas ainda hoje alvo frequente de contestação científica, a peça original é venerada por apresentar manchas que evidenciam o contorno do corpo de um homem com ferimentos nos pontos tradicionalmente associados à crucificação e é reconhecida pela Igreja Católica como o manto com que José de Arimateia envolveu especificamente o corpo de Cristo antes de o depositar no sepulcro.
Com mais de quatro metros de comprimento, o que corresponde a um lençol de linho que, na prática, terá sido dobrado várias vezes sobre si mesmo para acomodar o corpo de Cristo, a réplica agora exibida na Feira está autenticada pelo Arcebispo de Turim e permite observar os contornos humanos que fizeram do original “uma das relíquias mais veneradas pelos cristãos”.
“A importância da peça está, em primeiro lugar, na imagem impressa sobre o pano, que revela o corpo de um homem de aproximadamente 1,81 metros de altura e 80 quilos, muito semelhante às descrições feitas a respeito de Jesus pelos evangelistas”, afirma Roberto Carlos Reis.
O historiador argumenta, contudo, que o simbolismo da peça vai muito além disso, tendo em conta que a Bíblia está cheia de referências ao “pano de linho limpo” com que o corpo de Jesus foi coberto – como acontece, por exemplo, no Evangelho segundo João, que relata que, ao visitarem o túmulo de Cristo após a sua ressurreição, os apóstolos encontraram já dobrado o lençol que o envolvera.
Para Roberto Carlos Reis, é esse momento da história do manto que lhe confere uma segunda ordem de importância, cujo valor “ultrapassa largamente o dos vestígios físicos” identificados no original.
“O Santo Sudário representa o que há de mais precioso no Cristianismo, que é uma prova da ressurreição de Cristo – e isso é o sustentáculo da fé católica”, acrescenta.
Independentemente de convicções religiosas e científicas, o curador da exposição defende que esta é uma “oportunidade rara” para ver de perto “uma peça que tem sido venerada por milhões de pessoas ao longo dos tempos” e que mesmo a Catedral de Turim raramente mostra ao público. “A última exposição do original foi em 2015 e atraiu mais de dois milhões de fiéis”, realça.
Na Igreja Matriz da Feira, a réplica pode ser apreciada até ao final de maio: de segunda a sexta-feira, no período das 14:30 às 16:30; aos sábados, das 08:30 às 11:30 e das 14:30 às 19:30; e ao domingo, das 15:30 às 19:30.
A entrada é livre.
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