O antigo primeiro-ministro Francisco Pinto Balsemão mostrou-se hoje preocupado com a justiça social e com o funcionamento do poder judicial, e disse que o país espera por uma reforma “que ponha as coisas a andar”.
“Penso que todos estamos de acordo. Estamos há anos, há décadas, à espera de uma reforma judicial que ponha as coisas a andar, que não haja possibilidade de os julgamentos serem adiados 12 anos, 14 anos, depois há mais um recurso, depois há mais não sei o quê, e nunca mais há uma decisão”, disse o também fundador da SIC e do Expresso aos jornalistas, na Guarda, após ter recebido a Medalha de Honra Grau Ouro do município.
Na opinião de Francisco Pinto Balsemão, “não se pode viver assim”, até porque “as pessoas, depois, também caem numa certa moleza [e concluem]: ‘Isto também vai para Tribunal e nunca mais’”.
“E acho que os juízes e os magistrados do Ministério Público, também posso dizer, que não gostarão de ter essa imagem e essa fama de serem lentos. E, portanto, tem de haver um esforço de todos”, defendeu.
Momentos antes, no seu discurso, Balsemão disse que se está num mundo “que não está muito bonito, que está feio” e está “parado” em torno de vários conflitos, de guerras, de epidemias, de dificuldades de diálogo e de incompreensão entre as grandes e as médias potências.
Também em Portugal, disse verificar a existência de “muitas promessas e poucas concretizações”, apontando o caso do poder judicial, pois “toda a gente diz que é preciso fazer uma reforma do poder judicial, a começar pelos próprios magistrados, mas, depois, ninguém a faz”.
“Temos que apostar mais e acreditar mais no nosso país”, defendeu na sua intervenção, proferida na cerimónia realizada na Galeria dos Presidentes, nos Paços do Concelho da Guarda.
O presidente da Câmara Municipal da Guarda, Sérgio Costa (Movimento Pela Guarda), entregou hoje a Medalha de Honra Municipal a Francisco Pinto Balsemão, que passou a ser cidadão honorário daquele município.
A decisão de atribuição do galardão foi decidida, por unanimidade, pelo executivo municipal liderado por Sérgio Costa na reunião do dia 13 e foi hoje entregue ao antigo primeiro-ministro e empresário.
No final da cerimónia, o homenageado disse aos jornalistas que estava emocionado pela “grande” e “muito generosa iniciativa”.
“Quando soube, fiquei contente e, hoje, estou mesmo emocionado”, confidenciou o neto e filho de guardenses.
Francisco Pinto Balsemão lembrou alguns episódios vividos na cidade, como “quando começou a haver cinema” e quando ali passava férias e costumava “ir ao castelo [Torre de Menagem]”.
Também recordou que foi eleito deputado pelo distrito da Guarda, no tempo da ala liberal, e levou “muito a sério” o distrito que o elegeu.
O presidente da Câmara da Guarda referiu que o município decidiu distinguir o antigo primeiro-ministro por unanimidade e que a distinção é da “mais elementar justiça”.
“Por ele [cidadão Francisco Pinto Balsemão], por tudo aquilo que fez pelo país enquanto primeiro-ministro, enquanto empresário. Foi aqui que ele iniciou a sua carreira política, na ala liberal, no tempo do Marcelismo, do Marcelo Caetano, em 1969, quando foi então eleito enquanto deputado da nação do antigo regime”, disse Sérgio Costa.
O autarca acrescentou que o momento “é mais do que justo” e a partir de hoje Francisco Pinto Balsemão “passa a ser o cidadão honorário” da Guarda.
“Enquanto presidente de Câmara, [foi] com muito gosto, com muito orgulho, que entreguei esta distinção a Francisco Pinto Balsemão. É o agradecimento da sua terra. E a Guarda é uma terra de gente agradecida, de gente grata, que agradece àqueles que por aqui andaram durante muitos e bons anos, que são da terra, e que muito fizeram pela Guarda, pela região e pelo país”, concluiu.
Antes da sessão, o homenageado esteve presente na inauguração da peça de arte urbana “Banco de Leitura” (Jardim José de Lemos) e da exposição “50 Anos de Expresso” (Praça Luís de Camões).
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