O presidente da Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal (AIMMP) alertou hoje que a escassez de madeira de pinho e a subida do seu preço nos últimos meses vai provocar o encerramento de empresas do setor.
“Vão seguramente fechar empresas”, vaticinou Vítor Poças, que falava aos jornalistas à margem de um debate organizado pela AIMMP, que tinha como tema “A Ameaça ao Abastecimento de Madeira de Pinho”, que decorreu em Cantanhede e que juntou mais de uma centena de empresários desta fileira.
O presidente da associação notou que o setor – que chegou a ter mais de mil serrações e que agora terá entre 350 e 400 – irá assistir a uma perda de mais empresas nos próximos anos, face à falta de matéria-prima e à subida de preço da mesma.
“É uma situação aflitiva”, realçou, recordando que o preço do pinho aumentou mais de 50% nos últimos meses, ao mesmo tempo que falta volume de madeira em crescimento nas florestas portuguesas para dar resposta às necessidades das empresas nacionais.
Com uma floresta que tem uma taxa de crescimento “inferior ao que é consumido anualmente”, os incêndios apenas agravam o problema, notou.
Com um setor de base florestal “todo ele dependente da importação de madeira” – até a indústria da celulose importa -, Vítor Poças salienta que a indústria tem conseguido fazer “um pequeno grande milagre”.
“O setor está a fazer móveis com cada vez menos madeira, a recorrer aos painéis. Pode ser uma solução futura: recorrer mais à economia circular, aproveitar melhor a madeira e, por exemplo, com a importação de um carvalho francês, em lâminas de um milímetro, podem-se fazer ‘n’ móveis em Portugal com aproveitamento de produtos reciclados”, salientou.
Segundo Vítor Poças, o setor “tem que fazer um esforço para depender menos de madeira virgem, mas mais de produtos reciclados, usando a madeira virgem só naquilo que é o luxo” ou na componente estética.
Para o presidente da AIMMP, falta vontade política por parte do Estado para resolver o problema da floresta, que tem de ser entendido “como um problema de interesse público nacional”.
“O Estado tem que mexer na propriedade e na profissionalização da floresta”, defendeu.
No debate, vários empresários mostraram apreensão face ao momento que o setor vive.
“Todos nós viemos aqui hoje, porque isto é um funeral”, notou um desses empresários.
Mais cooperação, divisão da madeira em função da sua qualidade para cada subsetor ou a necessidade de utilizar menos matéria-prima virgem e criar produtos de valor acrescentado foram algumas das sugestões dadas pelos participantes.
Também durante o debate, fez-se uma espécie de ‘mea culpa’, com empresários a admitirem que a indústria nunca deu a devida atenção aos produtores florestais.
“Não remunerámos a floresta como devia ser e o proprietário vira-se para o abandono. Pagou-se um valor justo? […] Não soubemos tratar e a floresta está abandonada não só por culpa dos proprietários, mas também de nós. Quantos de nós são proprietários de floresta? Há outro setor, primo nosso [celulose], que não tem feito outra coisa se não investir na floresta”, constatou o vice-presidente da AIMMP, Paulo Verdasca.
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