Um insuflável amarelo com 12 metros de comprimento vai servir de palco à próxima produção do Leirena Teatro, com estreia marcada para 22 de setembro no leito do rio Lis, no centro de Leiria.
A preparação da peça “Playground” tem dado nas vistas na cidade: desde o dia 22 de julho que a companhia ensaia diariamente na enorme estrutura que flutua no rio. Vai ser assim nos próximos dois meses, desenvolvendo ao vivo, perante olhar de quem passa, a nova produção.
“Há muita curiosidade por parte das pessoas com o ‘water blob’ [bolha insuflável aquática]. Há pessoas que ficam aqui a ver-nos, fazem perguntas, alguns querem subir [ao insuflável] e mandar-se de lá para a água. Esta é, também, uma forma de convidar as pessoas a virem à estreia no dia 22 de setembro”, explicou o encenador Frédéric da Cruz Pires à agência Lusa.
A estrutura que serve de palco destaca-se na paisagem do rio: trata-se de uma enorme boia de 12 por 3 metros, que pesa 144 quilos e está presa a blocos de cimento com quase uma tonelada. Veio dos Estados Unidos da América, esclareceu o responsável, numa interrupção do ensaio.
A logística faz com que a companhia esteja, nestes primeiros dias, “não só a criar o espetáculo como a perceber a melhor forma de o transportarmos”.
Com teatro físico, acrobacia e circo contemporâneo, “Playground” é um trabalho em construção. “Ainda estamos à procura da dramaturgia”, sobretudo porque este é um suporte que exige adaptação, tanto do lado da encenação como da interpretação, a cargo dos artistas circenses Joka Pereira e Ivo Nicolau e e da chilena Montserrat Marín.
“O mais desafiante é ter de me habituar ao meu chão. Aqui não conheço o meu chão. Não é chão: é água com ar no meio e isso é mais desafiante”, afirmou Ivo Nicolau à Lusa.
Especializado em malabarismo, o artista admite que será preciso “habituarmo-nos bastante à postura em cima daquele sítio”:
“Mas ainda temos dois meses até à estreia. Dá para explorar bastante e criar um ambiente e um universo que não seja só o ‘blob’ e nós em cima dele. Ainda estamos a explorar o que é que o nosso corpo permite fazer ali em cima e o que não permite”.
Frédéric da Cruz Pires nunca tinha feito nada na água, mas surgiu-lhe a ideia de criar um espetáculo que explorasse “esse lado de equilíbrio, desequilíbrio, de saltos, de [os performers] suspenderem-se no ar”.
“Este espetáculo é uma questão de tempo, de relações, de olhares, de comunicar com o público, explorar o corpo, o movimento, a ação”, resume.
“Playground”, que em português significa “recreio”, é sobre “a forma como temos estado a tratar o nosso planeta”:
“Três personagens descobrem a última ilha de um planeta coberto de água”. Depois, inicia-se “novamente o ciclo de uma espécie invasora que tem todos os vícios que o ser humano tem – e que acabam por levar à destruição do ‘water blob’”.
Sem palavras e com música ao vivo de Surma, o espetáculo do Leirena aborda também o modo como “o homem se relaciona entre si”, para tentar “ser proprietário de uma coisa que não lhe pertence” e “querer lutar pela ilha em vez de cooperar, coletivamente, para a sobrevivência, para o bem-estar de todos”.
Após a estreia em Leiria no dia 22 de setembro, “Playground” será reposto igualmente no rio Lis, mas junto à foz, na Praia da Vieira, no concelho da Marinha Grande, a 28 de setembro.
Em 2025, o Leirena tem confirmadas apresentações na lagoa de Albufeira, em Sesimbra, e ainda em Águeda, Loulé, Quarteira, Palmela, Penafiel, Alfândega da Fé e Aveiro.
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