A vida e obra de Adriano de Sousa Lopes (1879–1944) é recordada numa exposição que o Museu de Leiria inaugura no sábado e que dá a conhecer o percurso do artista que esteve nas trincheiras da I Guerra Mundial.
Mais de cem obras de coleções públicas e privadas integram “Adriano de Sousa Lopes (1879–1944), o pintor-poeta”, exposição dedicada ao homem, natural de Leiria, “cuja obra marcou profundamente a história da arte portuguesa do século XX”, referiu o município de Leiria, em comunicado.
Pintor, gravador e ilustrador, Sousa Lopes destacou-se pelo trabalho realizado durante a I Guerra Mundial como oficial artista na frente de batalha.
“Essas gravuras são especialmente interessantes porque foram mesmo feitas lá, registadas com a emoção e o risco do momento. São completamente diferentes de outras gravuras de artistas estrangeiros, que apresentaram os soldados vitoriosos como os heróis. Aqui há tragédia, o drama da guerra, a desolação, o isolamento. É um sentimento muito dramático”, explicou à agência Lusa Maria de Aires Silveira.
Consultora deste projeto do Museu de Leiria e responsável pela primeira grande exposição nacional dedicada ao artista, em 2015, no Museu do Chiado, em Lisboa, a museóloga acrescentou que, além das gravuras histórias, em Leiria será possível ter uma perspetiva cronológica e mais abrangente do percurso de Sousa Lopes.
Procura-se dar a conhecer a complexidade do trajeto do artista, destacando a ligação à cidade natal e, sobretudo, a sensibilidade poética, influenciada por amizades como a do poeta Afonso Lopes Vieira, mas que incluíam outros nomes de relevo, como o escritor Aquilino Ribeiro, o pintor Columbano Bordalo Pinheiro, o colecionador Carlos Ahrends ou o escultor Joaquim Correia.
Maria de Aires Silveira destacou-lhe a “sensibilidade de recuar e fazer uma pintura de história com a recriação de memórias muito sensível” e, por outro lado, “o registo dos ambientes”.
Uma razão para isso pode ser “a ligação muito forte, desde a juventude, com cumplicidades muito fortes” com Lopes Vieira.
“Houve uma cumplicidade com o poeta o que, de certo modo, pode ter influenciado esta sua dimensão poética, especialmente nos primeiros anos da carreira, com obras sobre a ‘Ilíada’, sobre Camões, e há também uma certa dimensão poética n’‘As Ondinas’”, duas pinturas que integram as coleções do Museu de Leiria e do Museu Nacional de Arte Contemporânea.
Apreciador dos impressionistas – “talvez seja dos únicos artistas portugueses ligados ao impressionismo”, frisou a consultora -, Sousa Lopes procurava conjugar modernidade e tradição, sobressaindo na sua pintura o fascínio pela luz natural e a representação das paisagens, tanto em Portugal como por cidades que visitou ou onde viveu, como Veneza e Paris.
A exposição no Museu de Leiria é “muito importante”, porque, defendeu Maria de Aires Silveira, Adriano de Sousa Lopes “teve um papel fundamental”, não só “no registo destas pinturas como na reflexão sobre o impressionismo e nos modos de registar e analisar a luz”.
Nascido em 1879 na aldeia do Vidigal, em Leiria, o pintor viveu em Paris desde 1903 até finais dos anos de 1920, expondo com regularidade no Salon de Paris e no Grand Palais.
Em 1917, pouco depois da sua primeira individual em Lisboa, durante a Grande Guerra de 1914-18, alistou-se como artista oficial do Corpo Expedicionário Português.
Terminado o conflito, aceitou encomendas oficiais portuguesas, como a série de pinturas monumentais do acervo do Museu Militar de Lisboa.
No final da década de 1920, acabou por se fixar em Lisboa, onde assumiu a direção do Museu Nacional de Arte Contemporânea, de 1929 a 1944. Morreu em 1944, pouco depois de completar o painel dedicado ao Infante D. Henrique, no Salão Nobre do Palácio de São Bento.
“Adriano de Sousa Lopes (1879–1944), o pintor-poeta” estará patente no Museu de Leiria até 31 de dezembro de 2026.












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