O castro de Romariz, em Santa Maria da Feira, vai receber obras de 586.000 euros para valorização do seu potencial turístico e realização de mais escavações arqueológicas, revelou o município, que está a adquirir terrenos para o efeito.
Classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1945, esse sítio do distrito de Aveiro foi habitado desde o final da Idade do Bronze, por volta de 900 a 700 a.C., e manteve-se ocupado por mais de 600 anos, servindo de morada aos chamados Túrdulos Velhos.
Desse período é visível ainda hoje uma parte do povoado, cujos vestígios de edificações, arruamentos, canalizações, duas cinturas de muralha e um fosso se distribuem por um ‘plateau’ elevado e isolado, rodeado por castanheiros, carvalhos e sobreiros.
Por enquanto, as visitas ao local fazem-se apenas sob marcação, mas o objetivo da Câmara da Feira é que, após as obras anunciadas para meados de 2022, o castro apresente melhores condições de acesso ao público e um novo centro informativo que agilize o turismo e a investigação científica.
“Queremos ficar com melhores condições para, por um lado, fazer a manutenção e vigilância do espaço, e, por outro, realizar mais campanhas de escavação, mais estudos de materiais e outras atividades científicas, inclusive com os alunos de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, que já aqui costumam trabalhar connosco”, revelou à Lusa a diretora do Museu Convento dos Loios, Ana José Oliveira, que tutela o castro de Romariz.
O presidente da Câmara da Feira, Emídio Sousa, realçou que o povoado em causa “foi abandonado voluntariamente pelos seus ocupantes”, dado que as áreas já escavadas se revelaram “limpas” em termos de objetos utilitários. “Quem saiu daqui levou os seus pertences e as famílias espalharam-se pela região de acordo com as mudanças económicas da altura”, explicou.
Ana José Oliveira acrescentou que, mais tarde, o local “foi romanizado e essa nova ordem refletiu-se no estilo de construção das casas, já que as mais antigas eram redondas e as seguintes foram acopladas a uma série de espaços retangulares”.
No sítio há, aliás, uma ‘domus’ bem definida, “que já é uma casa à maneira romana, com pátio central e a tradicional mesa à entrada, onde se depositavam as frutas e bebidas para oferecer às visitas”.
A atual área escavada visitável é de aproximadamente 2.500 metros quadrados, mas a autarquia está a fechar com diferentes proprietários a aquisição na envolvente de mais 29.835 metros destinados a acolher novas prospeções arqueológicas e também a formar uma maior zona de proteção em redor de todo o povoado.
Em trabalhos de limpeza e consolidação, a Câmara já gastou 86.000 euros e na aquisição e permutas de terrenos o autarca Emídio Sousa prevê gastar cerca de 120.000 euros.
Os restantes 400.000 euros serão aplicados em três outras tarefas até 2025: a construção do centro informativo para receção dos visitantes, apoio às campanhas arqueológicas e proteção do imóvel classificado e respetiva envolvente; a reformulação do acesso viário e ciclável ao local para criação de estacionamento adequado; a reflorestação da área com espécies utilizadas pela população indígena do povoado; e a sinalização de percursos com tecnologias interativas como códigos QR e realidade aumentada.
Em todo o caso, “turismo de massas nunca será o objetivo” da requalificação. Ana José Oliveira tem a expectativa de aumentar a procura registada em 2019, quando o castro recebeu cerca de 2.000 visitantes (a maioria dos quais afetos a projetos educativos e visitas orientadas por técnicos do Museu dos Loios ou da associação local Voltado a Poente), mas defende que “todas as intervenções no local têm que ser sempre muito prudentes” e insiste que o fluxo de público no local “terá que ser sempre muito cauteloso e controlado”, dado a riqueza do património a preservar.
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