Leiria

Registos acústicos do Mosteiro da Batalha vão estar disponíveis em plataforma digital

0

Registos acústicos de vários espaços do Mosteiro da Batalha (Leiria) vão estar disponíveis a curto prazo na plataforma digital Património Acústico de Espaços Portugueses Significativos, disse à agência Lusa o responsável deste projeto.

Segundo Diogo Alarcão, docente na Escola Superior de Música de Lisboa e investigador do Centro de Estudos em Música da Universidade Nova de Lisboa, o trabalho foi desenvolvido este mês, na Igreja, Capela do Fundador, Capelas Imperfeitas e Sala do Capítulo daquele monumento Património Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO, na sigla em inglês).

Em diferentes locais daqueles quatro espaços, o investigador e alunos da escola recolheram, num dia e numa noite, registos acústicos que vão passar a integrar a ‘REVERBDATA’ (que foi buscar o nome a reverberação, reflexo do som), base de dados com o património acústico.

No sítio na Internet REVERBDATA, lê-se que “a reverberação é um fenómeno auditivo comum experimentado diariamente, resultante da interação do som com o meio envolvente”.

“Este efeito, que é particularmente audível em espaços fechados devido aos numerosos ecos que surgem, é muitas vezes incorporado artificialmente na música gravada e produzida eletronicamente”, bem como no cinema, aplicações de realidade virtual e jogos de computador.

Os áudios de demonstração da reverberação resultam do processamento dos registos acústicos nos espaços do Mosteiro da Batalha, efetuados com recurso a vários microfones e um altifalante de “radiação sonora em todas as direções”, explicou Diogo Alarcão, engenheiro especialista em acústica.

Além dos áudios, a plataforma vai incluir os locais precisos onde foram feitos os registos (por exemplo, as zonas do altar ou dos fiéis, no caso da igreja), informação arquitetónica e fotografia do espaço.

“O que é disponibilizado no ‘site’ chama-se Respostas ao Impulso (RIR)”, declarou, esclarecendo que “é como se se batesse palmas dentro do espaço e se captasse os ecos todos”.

De acordo com o docente, RIR “é uma fotografia acústica de um espaço”, contendo “informação completa sobre como o som é ouvido e percebido dentro do espaço devido à reverberação”.

Na base de dados consta o trabalho desenvolvido noutros espaços, como o Grande Auditório da Gulbenkian, teatros, Panteão, mosteiros, igrejas, uma discoteca ou outros monumentos património da UNESCO.

“O conjunto de dados está acessível para investigação, simulação e preservação”, destacou Diogo Alarcão, realçando o contributo da ciência para a cultura.

O docente salientou que o objetivo é alargar o projeto a todos os monumentos com aquela classificação, como o Mosteiro dos Jerónimos, a Torre de Belém e a Universidade de Coimbra, especificamente a Biblioteca Joanina e as salas dos Capelos e dos Atos, ou o Santuário do Bom Jesus de Braga.

Admitindo que “o financiamento é complicado” e os recursos financeiros “são praticamente nenhuns atualmente”, ainda assim o investigador acrescentou à lista o Reservatório da Mãe d’Água (Lisboa) ou espaços do Santuário de Fátima.

“E, eventualmente, pode até ser um espaço interessante e que depois alguém se interesse mais pelo projeto, o nosso parlamento, embora a oratória às vezes não seja a mais interessante, mas ao menos a acústica pode ter interesse”, referiu.

Questionado sobre a mais-valia desta base de dados, o investigador exemplificou com o incêndio, em 2019, na Catedral de Notre-Dame (Paris).

“Quando foi feita a sua reconstrução, a acústica também foi tida em conta, porque havia uma avaliação acústica antes do incêndio”, declarou.

De acordo com Diogo Alarcão, na eventualidade de o Convento de Cristo (Tomar) “sofrer um infortúnio”, há informação sobre a arquitetura ou os materiais, mas não se “sabia bem como é que era a acústica”, mas “agora já se sabe e está preservada para o futuro”.

O docente afirmou que esta base de dados “pode servir para outros trabalhos”, como visitas virtuais.

“Pode gravar-se uma voz ou uma música num estúdio, sem reverberação nenhuma, sem assinatura de nenhum espaço, e colocá-las virtualmente a soarem como se estivessem dentro da Igreja do Mosteiro de Alcobaça, no São Carlos ou na Gulbenkian”.

Notícias do Centro | Lusa

Um ferido e 23 pessoas assistidas após incêndio numa residencial na Batalha

Notícia anterior

Presidente da Câmara de Moimenta da Beira (PS) quer continuar trabalho

Próxima notícia

Também pode gostar

Comentários

Comentários estão fechados

Mais em Leiria