Aveiro

Obra de Víctor e Maria José Palla em mostra inédita que cruza peças de pai e filha

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O Centro de Arte de São João da Madeira inaugura este sábado a exposição “Víctor Palla – Maria José Palla”, que, assinalando o centenário do arquiteto, fotógrafo e pintor, cruza a sua obra com a da filha e parceira artística.

Patente ao público na Torre da Oliva, no referido concelho do distrito de Aveiro, a mostra foi concebida pelo fotógrafo e pedagogo Aníbal Lemos, que, enquanto diretor do Centro de Arte, diz que “esta é a primeira vez que se realiza em Portugal uma exposição com esta dimensão e neste formato, com obras desde a década de 40 até anos mais recentes”.

Entre o material exposto destacam-se fotografias de Víctor Palla impressas por Aníbal Lemos a partir de negativos que o próprio digitalizou e entre os quais se incluem 10 nus, 10 imagens da década de 1940, em que Maria José foi sua modelo, e várias outras imagens captadas nos anos de 1950.

Do arquiteto que foi coautor, com Bento d’Almeida, de edifícios como o café Galeto de Lisboa, a confeitaria Cunha do Porto e o aldeamento as Açoteias no Algarve, haverá ainda para conhecer duas peças de cerâmica, pinturas, livros próprios e “diversas capas de livros que desenhou para outros autores, já que também era designer gráfico e trabalhou muito no meio editorial”.

Quanto a Maria José Palla, a exposição do Centro de Arte de São João da Madeira vai revelar sobretudo a sua vertente de fotógrafa e modelo, começando pelas imagens em que foi a filha, então adolescente, a posar para o pai e terminando com aquelas em que, décadas mais tarde, “os papéis se inverteram” e foi ela a capturar o progenitor.

Aníbal Lemos nota que esse trabalho da fotógrafa “já é conhecido”, em especial as imagens em que Maria José funde o seu rosto com o do pai, mas considera que esses registos não podiam faltar na mostra a inaugurar sábado, pelo que envolvem de “uma reflexão que explora a relação entre os dois e questiona a identidade de um e outro”.

Arquiteto, fotógrafo, designer gráfico, pintor e escritor, Víctor Palla (1922-2006) “sempre preferiu fotografar pessoas”, fazendo-o num estúdio adaptado ou no espaço exterior, do que resultou “uma estética modernista avançada para a época, com o controle encenado das poses, dos jogos de luzes e da estruturação dos elementos na composição, na densidade e nuance das tonalidades, na manipulação do negativo quadrado da sua Rolleiflex”.

No nu, explorou os efeitos formais de luz e sombra, testando ainda uma aproximação ao surrealismo.

Qualquer que fosse o género artístico a que Víctor Palla se dedicasse, a sua influência mais frequente era, contudo, a arquitetura, o que não o impediu de se afirmar como “um artista plural”, como nota Aníbal Lemos ao realçar que, “mesmo quando o país vivia tempos de isolamento do exterior, ele se revelava informado e conhecedor do panorama social e artístico do mundo e das correntes estético-filosóficas que floresciam universalmente”.

Assim se justifica uma carreira da qual constam vários marcos: Víctor Palla foi, por exemplo, diretor da “Galeria Portugália” do Porto, filiado do Partido Comunista Português, coeditor com José Cardoso Pires da coleção de bolso com autores censurados “Os Livros das Três Abelhas”, ensaísta da revista “Seara Nova” e fundador da emblemática mostra fotográfica “Lisboa, Cidade Triste e Alegre”, também editada naquele que em 2001 foi “distinguido internacionalmente como um dos melhores livros de fotografia do século XX”.

Está representado em coleções como a da Fundação Calouste Gulbenkian, o Museu Coleção Berardo e o Museu do Chiado, sendo que em 1999 recebeu o Prémio Nacional de Fotografia e a título póstumo foi ainda distinguido como membro honorário da Ordem dos Arquitetos.

Maria José Palla (1944), por sua vez, dedicou-se sobretudo à fotografia e à História da Arte. No primeiro campo, foi muitas vezes modelo de si própria no registo de “estados emocionais e vivenciais de tempos e lugares diversos, mostrando-se livre de pressões formais ou composicionais, e fixando-se numa estética de representação poética e filosófica por vezes metafórica e subjetiva”.

No domínio da investigação académica, é jubilada pela Universidade Nova de Lisboa e doutorada pela Sorbonne de Paris, onde esteve exilada. Ainda segundo Aníbal Lemos, especializou-se na obra de Gil Vicente e dedicou ao dramaturgo “inúmeras publicações de livros e artigos”, aos quais se acrescentam ainda títulos sobre a pintura portuguesa do Renascimento.

Notícias do Centro | Lusa

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