O secretário regional do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) da Região Centro disse hoje temer o pior no hospital de Leiria e em outras unidades do país no inverno, por não haver médicos suficientes nos serviços de Urgência.
“Temo o pior, em Leiria e em muitos outros hospitais do país, porque não há médicos suficientes para assegurar as escalas de Urgência”, afirmou José Carlos Almeida.
O responsável regional do SIM/Centro falava à agência Lusa após uma reunião de esclarecimento sindical no Hospital de Santo André, em Leiria, e outra com o conselho de administração do Centro Hospitalar de Leiria (CHL), de que faz parte aquela unidade, para abordar a carência de pessoal e os problemas nas escalas da Urgência Geral, serviço onde hoje de madrugada o acesso de doentes esteve limitado.
José Carlos Almeida explicou que “nos períodos de outono/inverno são mais frequentes as infeções respiratórias e, portanto, as pessoas tendem a acorrer mais aos serviços de Urgência”.
“Se os hospitais estão desfalcados de médicos, se não conseguem preencher as escalas de Urgência de forma adequada, a assistência que esses médicos vão dar às pessoas que vão à Urgência não vai ser igual à que dariam se as escalas estivessem completas”, alertou.
Na terça-feira, o CHL anunciou que o acesso ao serviço de Urgência Geral do Hospital de Santo André iria estar limitado entre as 22:00 desse dia e as 08:00 de hoje, justificando com o facto de “continuarem a acorrer ao CHL muitas falsas urgências”.
Por outro lado, o CHL justificou a medida por as “Urgências da ADR [Área Dedicada para Doentes Respiratórios] do Hospital das Caldas da Rainha do Centro Hospitalar do Oeste terem encerrado” na segunda-feira e “estarem a ser reencaminhados doentes” para o hospital de Leiria.
Outra razão prendeu-se com o facto de ainda na segunda-feira “se ter registado o recorde desde 01 de janeiro deste ano do número de doentes atendidos no Serviço de Urgência Geral” do Hospital de Santo André “de 404 doentes, sem que tenha sido possível, não obstante todos os esforços, alocar reforços médicos necessários para uma resposta compatível”.
No dia 01 de outubro, o CHL confirmou que nesse dia “não foi possível preencher a escala de urgência de Ortopedia entre as 09:00 e as 20:00”, o que motivou críticas do SIM e da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos.
O responsável do SIM/Centro adiantou hoje que “na próxima sexta-feira é possível que não haja novamente ortopedista na Urgência do hospital de Leiria” e “nos últimos dois fins de semana do mês de outubro – sextas, sábados e domingo – não está de momento escalado nenhum cirurgião”.
José Carlos Almeida realçou que estas “são situações graves que, infelizmente não são de agora”, mas “ressurgiram agora no período pós-pandemia”.
“Em 2018, 2019, particularmente nos períodos da gripe, houve situações dramáticas no hospital de Leiria, com risco para os doentes e geradoras de grande sofrimento médico, precisamente porque os médicos não conseguiam prestar o melhor atendimento”, frisou.
Questionado sobre a responsabilidade desta situação, o SIM/Centro reconheceu que o conselho de administração do CHL “poderá ter cometido alguns erros ao longo dos anos, mas isso não é o principal”.
“Se olharmos para o Serviço Nacional de Saúde como um todo, isto é um panorama que se repete em ‘n’ hospitais e nos centros de saúde”, referindo que “cada vez há mais portugueses sem médico de família, já ultrapassa um milhão de portugueses”.
Segundo o médico, o panorama de Leiria é o mesmo de outras unidades hospitalares, como Setúbal, Amadora-Sintra, Almada, Guarda ou Castelo Branco, notando que, “neste momento, mais de um terço das vagas que são colocadas a concurso não são preenchidas ou porque os novos especialistas preferem ser contratados pelas instituições privadas de saúde ou porque preferem emigrar, ir para outros países da União Europeia, onde irão ganhar muitíssimo mais”.
Para José Carlos Almeida, “o que é desejável é que o salário base dos médicos aumente, que haja mais médicos no Serviço Nacional de Saúde e que não haja esta necessidade de fazer tantas horas extraordinárias”.
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