Compreender como se desenvolve a doença celíaca e encontrar tratamentos alternativos à dieta isenta de glúten, com vista à melhoria da saúde e do bem-estar dos doentes, é o grande objetivo do projeto CeliAct (TIV), liderado por Sónia Gonçalves Pereir.
O projeto CeliAct (TIV) visa não só desenvolver o conhecimento sobre a fisiopatologia da doença celíaca, dissecando mecanismos de interação glúten-microbioma-sistema imunológico, como caracterizar a estrutura da microbioma bacteriana de pessoas com doença celíaca e os seus familiares de primeiro grau.
“Estamos neste momento a concluir o segundo ano do projeto, de um total de três anos, e nos Estados Unidos da América tivemos a oportunidade de apresentar os mais recentes resultados da investigação, em que foi estudado o microbioma intestinal de doentes celíacos e dos seus familiares diretos. Tratou-se de uma abordagem inovadora nesta área”, começa por explicar Sónia Gonçalves Pereira.
De acordo com a investigadora, os resultados do estudo revelam que “o microbioma intestinal dos doentes é mais parecido ao dos seus familiares que ao dos outros doentes, o que evidencia que é mais influenciado por fatores ambientais do que pela doença. Mesmo com essas maiores semelhanças entre familiares, os doentes celíacos apresentam uma menor quantidade de bactérias que degradam a fibra alimentar, possivelmente derivado do menor consumo de fibra, imposto pela dieta isenta de glúten a que são obrigados como único tratamento atualmente disponível para esta doença”.
“Concluímos que é importante reforçar o consumo de fibra nestes doentes, o que pode ser relevante para a indústria alimentar considerar no desenvolvimento de novos produtos sem glúten adequados a estes doentes. Sabe-se que estas espécies bacterianas degradadoras de fibra, que se encontram em menor quantidade nos doentes, estão associadas a menores processos inflamatórios, pelo que é importante promover uma dieta com mais fibra nestes doentes, uma vez que a inflamação está associada a menor saúde e maior risco de doenças como diabetes, obesidade, entre outras”, refere Sónia Gonçalves Pereira.
Até ao término do projeto, a equipa vai ainda explorar o efeito de bactérias isoladas dos doentes e dos seus familiares na degradação da gliadina, a proteína do glúten mais associada ao desencadear da resposta autoimune típica desta doença.
Segundo a investigadora do ciTechCare, o objetivo é “procurar algum biomarcador ou alvo terapêutico para novas alternativas de diagnóstico e tratamento, que não apenas uma dieta isenta de glúten, que tem vários impactos na qualidade de vida destes doentes, como o permanente cuidado com a contaminação com glúten em qualquer refeição, que muitas vezes impede-os de irem a eventos sociais sem ofertas seguras”.
“Além disso, e de acordo com os dados que encontrámos na primeira fase do projeto, a dieta isenta de glúten aumenta o risco para outras doenças e mantém processos inflamatórios globalmente perniciosos para o seu estado de saúde.”
Liderado por Sónia Gonçalves Pereira, do Politécnico de Leiria, o projeto conta com a colaboração da Harvard Medical School (EUA), Massachusetts General Hospital (EUA), Tampere University (Finlândia) e Chemistry Center of Coimbra (Portugal), até ao término da sua execução.
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