Um livro com uma seleção de cartas inéditas de José Malhoa é lançado no domingo, em Figueiró dos Vinhos, distrito de Leiria, revelando dados novos sobre a vida e obra do pintor.
“1911-1933 Cartas Figueiroenses de José Malhoa” é fruto da primeira investigação feita ao espólio documental adquirido em 2020 pelo município de Figueiró dos Vinhos, do qual constava um lote de 150 cartas privadas de Malhoa.
O livro tem coordenação de Maria de Aires Silveira e de Luís Borges da Gama, que encontrou o conjunto de documentos adquiridos pela Câmara de Figueiró dos Vinhos que, agora, deram origem à publicação.
Trata-se de “uma obra de grande valor histórico e cultural, que aprofunda o conhecimento sobre José Malhoa”, referência fundamental do Naturalismo português, “e a sua ligação a Figueiró dos Vinhos”, realça o município, em nota divulgada.
Segundo a investigadora Maria de Aires Silveira avançou à agência Lusa, a correspondência encontrada divide-se em dois períodos: “À volta de cem cartas são dirigidas ao amigo Cruz Magalhães, de 1911 a 1914”.
Artur Ernesto Cruz Magalhães (1864-1928) foi colecionador, poeta, crítico, humorista e o fundador do Museu Bordalo Pinheiro, em Lisboa.
Outra série de correspondência, “cerca de 40 cartas, são dirigidas a Julieta Ferrão, e foram escritas entre 1923 até à morte do pintor, em 1933”. Julieta Ferrão (1899-1974) foi conservadora, historiadora, artista e a primeira mulher a dirigir um museu em Portugal, precisamente o Museu Bordalo Pinheiro.
“Na sua maioria são cartas muito interessantes, porque são dirigidas a um amigo. Há um outro conjunto de cartas dirigidas a José Relvas, que estão na Casa dos Patudos [em Alpiarça, Santarém], mas com alguma deferência. Aqui trata-se de cartas dirigidas ao amigo, com um certo à-vontade, com expressão de pensamentos, atitudes de vida ou até de crítica a todo aquele processo da I República”, realçou Maria de Aires Silveira.
Através de “pensamentos e opiniões” registados nas cartas – “quase todas escritas a partir de Figueiró dos Vinhos”, onde José Malhoa vivia cerca de metade do ano -, descobrem-se “muitos pontos de vista ou perspetivas diferentes daqueles que estávamos habituados a entender”.
Para a investigadora é ainda “muito interessante perceber que as cartas envolvem os próprios habitantes de Figueiró”.
“Ainda hoje as pessoas de lá o admiram e conhecem muito bem o pintor e algumas obras, porque ele relacionava-se com as pessoas com muita simpatia e amabilidade. E escolhia, entre as pessoas de Figueiró, os seus modelos”, acrescentou.
Para o livro, vários investigadores que têm trabalhado a vida e obra José Malhoa foram convidados “a escolher uma carta e comentarem como entendessem”.
Além de Maria de Aires Silveira e Luís Borges da Gama, esse exercício é feito no livro por Sandra Leandro, Isabel Falcão, José António Falcão, Matilde Tomás do Couto e Margarida Herdade Lucas.
A coordenadora considera a edição do livro um primeiro passo da investigação que entende ser necessária realizar ao espólio encontrado: “É uma aquisição muito relevante e foi um investimento da Câmara Municipal muito importante para o conhecimento do José Malhoa. Agora [as cartas] terão de ser ainda mais estudadas”.
O lançamento de “1911-1933 Cartas Figueiroenses de José Malhoa” acontece no domingo, a partir das 16:00, no Museu e Centro de Artes de Figueiró dos Vinhos.













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