Guarda

Empresa têxtil responsabiliza Câmara da Guarda por fecho de lavadouro de lãs

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A empresa Têxtil Tavares, na Guarda, alegou hoje ter sido forçada a encerrar o último lavadouro de lãs do país com capacidade industrial após a Câmara Municipal da Guarda ter decidido tamponar o coletor daquela unidade industrial.

A empresa centenária, que se dedica à produção de fios cardados e à lavagem de lãs, “foi forçada a encerrar parte da sua atividade na sequência da decisão exclusiva da Câmara Municipal da Guarda de tamponar o coletor da sua ETAR, medida tomada em reunião de Câmara e aprovada por votação em janeiro de 2025”, referiu a direção da Têxtil Tavares num comunicado enviado à agência Lusa.

“Contrariamente ao que veio a ser publicamente divulgado pela autarquia, esta decisão não resultou de qualquer ordem judicial, mas sim de um ato administrativo próprio, deliberado internamente”.

O município anunciou, no final de janeiro de 2025, que ia retomar a despoluição dos rios Diz e Noeme, na sequência do tamponamento de um coletor de águas residuais que estava a contaminar a água na zona da Gata, a poucos quilómetros da cidade.

“Esta Câmara deu seguimento a uma ordem do Tribunal Administrativo e Fiscal de Viseu. Houve a coragem política de decidir fechar o coletor em causa, que foi tamponado em definitivo na semana passada”, disse na altura Sérgio Costa, presidente do município, à agência Lusa.

A Têxtil Tavares, a empresa afetada, disse agora que o fecho “forçado” do lavadouro de lãs, “o último a funcionar em Portugal”, está a ter “consequências profundas e imediatas” para o setor têxtil, os produtores de lã e o ambiente.

“Portugal deixa de dispor de capacidade interna para lavar lã bruta, obrigando à exportação da matéria-prima não tratada e provocando perda de valor acrescentado e postos de trabalho”.

Por outro lado, o transporte internacional da lã não lavada implicará “maiores emissões de CO2 e contraria os compromissos de sustentabilidade e economia circular”, acrescentou a empresa.

Do fecho do lavadouro resultará também que a lã recolhida em todo o país fica “sem destino legalmente permitido”.

“O seu enterramento é proibido por lei, obrigando os agricultores a enviar a lã para aterros industriais, com custos muito elevados e perda total do valor da matéria-prima”, alertou a Têxtil Tavares.

Segundo a empresa, este encerramento vai igualmente comprometer “a rastreabilidade, certificação e transformação local da lã, colocando em risco toda a fileira lanífera nacional e o futuro de indústrias que dependem desta matéria-prima”.

A Têxtil Tavares apelou às autoridades competentes para que “sejam encontradas soluções equilibradas e tecnicamente viáveis que permitam retomar a atividade do lavadouro e salvaguardar um património industrial e cultural com mais de um século de existência”.

Confrontado pela agência Lusa com esta denúncia, o presidente da Câmara da Guarda, Sérgio Costa, começou por lamentar que a comunicação da Têxtil Tavares tenha ocorrido “a poucos dias” das eleições autárquicas.

“Não quero pensar que haja aqui alguma ligação propositada, aliás, já me foi reportado que um dos responsáveis da fábrica esteve presente nalguns comícios da nossa oposição. Mas nada contra isso, todos somos livres”, afirmou.

Relativamente ao tamponamento do coletor, o autarca, que concorre a um segundo mandato, justificou que o município “executou uma ordem do Tribunal Administrativo e Fiscal de Viseu e, portanto, tem de se cumprir uma decisão da justiça”.

“A oposição, PS e PSD, na reunião de Câmara, votou a favor dessa decisão, precisamente pelo princípio do poluidor-pagador. Há 24 anos que aquela poluição estava ali – os coletores foram tamponados em 2024 –, eu tenho conhecimento que quer a Agência Portuguesa do Ambiente, quer a Águas do Vale do Tejo, quer a Câmara da Guarda, tentaram variadíssimas soluções para acabar com aquele foco de poluição, mas o Tribunal Administrativo e Fiscal acabou por tomar esta decisão e por isso temos de cumprir, estamos obrigados”.

Notícias do Centro | Lusa

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