Numa linha ferroviária “parada na história”, em Aveiro, a líder da Iniciativa Liberal andou a tentar ganhar eleitores para as autárquicas, mas boa parte vivia no concelho vizinho de Águeda, onde os liberais não concorrem.
Na estação ferroviária do Eixo, a caravana de campanha da IL entrou na linha do Vouga para propor um metro de superfície e pedir votos para as autárquicas de domingo, uma proposta acolhida por Daniel Polónia, professor universitário.
“Eu sou militante de outro partido, com quem vocês costumam fazer coligações”, sorriu o docente, embora acrescentasse a seguir: “mas gosto das vossas ideias”.
“Que pena, mas vai sempre a tempo de mudar”, respondeu Mariana Leitão. Daniel Polónia encolheu os ombros: “Nem podia, vocês não têm lista em Águeda”.
“O partido está a crescer e vamos ter” no futuro, prometeu Mariana Leitão que, pouco depois, também teve mais uma surpresa do género na carruagem, com Joana Costa, e que, todos os dias, vai para Aveiro trabalhar com queixas recorrentes do mau serviço ferroviário.
“Olá Joana, eu sou a Mariana”, sentou-se a líder da IL no banco imediatamente à frente. “Eu sei, estou a par”, respondeu Joana.
“Faço o trajeto todos os dias e quando não há comboio venho de carro. Ainda ontem, um foi suprimido e fiquei uma hora e meia à espera de comboio para casa”, disse Joana Costa, conhecedora dos problemas da única linha de bitola estreita do país.
“Ó Miguel, senta-te aqui e ouve a Joana”, retorquiu Mariana Leitão, chamando o gestor Miguel Gomes, candidato da IL a Aveiro, que ultrapassou os jornalistas para se sentar ao lado de Joana Costa.
Mas “não voto aqui em Aveiro, voto em Águeda, acho que nem sequer a IL tem lá candidato”, avisou Joana. “Era mais um voto”, lamentou Miguel Gomes, do núcleo de Aveiro que recusou a proposta do PSD [no poder] de uma coligação autárquica.
“Porque entendemos que a melhor forma de servir os interesses da população em Aveiro era termos a nossa própria candidatura”, justificou Mariana Leitão, que deu como exemplo dos problemas da região a linha ferroviária do Vouga, com composições lentas, horários atrasados e carruagens grafitadas.
“No inverno, não dá para ver onde é que saímos, porque as janelas estão todas pintadas” e só se adivinha o apeadeiro “por feeling”, explicou Joana Costa.
Depois da viagem, já aos jornalistas, Mariana Leitão disse que a linha do Vouga mostra o “desinvestimento constante” na mobilidade, com “uma situação que parece estar parada na história”.
Melhor mobilidade iria permitir outras “soluções de habitação”, porque as pessoas poderiam residir em zonas mais distantes dos centros, mas com meios para irem para o seu trabalho.
Para a linha, a proposta da IL passa pela sua eletrificação e transformação num metro de superfície. As automotoras “são a gasóleo e por isso são muito mais lentas, há ali uma falta de oferta em termos dos horários” e o objetivo é uma solução “mais moderna, mais célere e obviamente também com mais conforto”.
“Os senhores estiveram lá e assistiram às condições de conforto”, disse Mariana Leitão.
Cristina Ruela, a primeira eleitora com quem Mariana Leitão falou na ação de campanha, ainda na estação do Eixo, discorda e não acha desconfortável o comboio que a leva, todas as semanas, a Aveiro para consultas de fisioterapia.
“Não percebo muito disso do metro”, mas estes comboios “já têm umas rodinhas melhores que antes”.
Depois de 2020, os carris foram renovados e linha foi reaberta no troço central, entre Oliveira de Azeméis e Sernada do Vouga, que antes tinha como limite apenas 10 quilómetros por hora, num investimento total de 6,2 milhões de euros.
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