A Associação Industrial Portuguesa (AIP) apelou hoje ao esforço para se encontrar uma solução que viabilize e salvaguarde os ativos da empresa de confeções Dielmar, mas alerta que o processo tem de ser célere.
“É provável que haja investidores nacionais do setor que possam, mas não de forma isolada, estar interessados no negócio [Dielmar]. Se tal acontecer, muito dificilmente se evitará a redução de pessoal e um forte apoio do estado à modernização tecnológica e fundo de maneio”, refere um comunicado da AIP enviado à agência Lusa.
A Dielmar pediu a insolvência no passado dia 02 de agosto, tendo o Juízo de Comércio do Fundão da Comarca de Castelo Branco declarado a insolvência da empresa no dia seguinte.
Recentemente, os trabalhadores da empresa de Alcains receberam do Sindicato dos Trabalhadores do Sector Têxtil da Beira Baixa a informação de que têm salvaguardados o salário do mês de agosto e o respetivo vínculo de trabalho, enquanto o Ministério da Economia e o administrador da insolvência trabalham o processo.
“Foram dadas todas as informações que recolhemos [sindicato] ao longo desta semana nas reuniões que tivemos [com o ministro da Economia e com o administrador da insolvência] e foi transmitido aos trabalhadores que, efetivamente, vão ser salvaguardados os salários do mês de agosto e enquanto decorrer o processo”, afirmou aos jornalistas, Marisa Tavares, do Sindicato dos Trabalhadores do Sector Têxtil da Beira Baixa.
No comunicado, a AIP apela “ao esforço para se encontrar uma solução que viabilize a atividade da empresa e salvaguarde os seus ativos”, mas alerta que “o processo, todavia, tem de ser célere”.
“O setor têxtil faturava 7,5 mil milhões de euros antes da pandemia [covid-19] e 5,3 mil milhões destinava-se à exportação, evidenciando desta forma a sua importância na economia nacional. Mas, enquanto as exportações do segmento têxtil lar cresceram 25% nos primeiros cinco meses de 2021, o segmento do vestuário baixou 28%”, sustenta.
Adiantam que a insolvência da Dielmar e as reações públicas que provocou obrigou a associação a “fazer algumas reflexões”, sobretudo, naquilo que diz respeito ao ambiente de negócios em Portugal e à forma como é encarada a atividade empresarial.
Segundo a AIP, a Dielmar “investiu na marca, na confeção de alta qualidade; posicionou-se no segmento médio-alto e no nicho de vestuário mais formal; criou a alfaiataria masculina e feminina por medida; lançou-se na exportação”.
“Há 20 anos não havia nenhum consultor que não defendesse que esta era a estratégia a seguir neste setor industrial”, sublinham.
A AIP espera que a insolvência da empresa de confeções de Alcains “sirva para se fazer uma reflexão sobre o modelo de negócio e a estratégia comercial a adotar nos setores industriais tradicionais da economia portuguesa”.
Realça ainda que a empresa de confeções não acedeu a sistemas de incentivos à modernização tecnológica, mas recorreu aos instrumentos de capitalização que a política pública disponibilizava, nomeadamente ao fundo de apoio à concentração e consolidação empresarial (FACCE) e depois ao fundo imobiliário especial de apoio às empresas (FIEAE).
O FACCE é um instrumento criado para apoiar a atividade económica e o emprego, que tomou 30% do capital social e direitos acionistas especiais consagrados num acordo para-social.
Já o FIEAE destinava-se a sanear e a estabilizar empresas economicamente viáveis que estivessem em dificuldades.
Segundo a AIP, “não parece razoável que estes fundos não exijam administradores nas empresas onde intervêm, de forma a ficarem responsabilizados pela gestão implementada”.
Fundada em 1965, em Alcains, por quatro alfaiates que uniram os seus conhecimentos, a Dielmar, que empregava atualmente mais de 300 trabalhadores, pediu a insolvência ao fim de 56 anos de atividade, uma decisão que a administração atribuiu aos efeitos da pandemia de covid-19.
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