O relatório prévio do estudo de avaliação de impactos ambientais após as descargas de efluentes não tratados no rio Lis devido à avaria na estação elevatória de Monte Real, concelho de Leiria, indica “evidente recuperação”.
“Os resultados preliminares apontam para um impacto agudo, espacialmente circunscrito e de curta duração, mas sugerem já uma evidente recuperação nos troços a jusante do ponto de descarga”, lê-se no relatório, com data de 15 de outubro.
O Estudo Técnico para Avaliação de Danos Ambientais e Medidas de Mitigação foi adjudicado pela Águas do Centro Litoral (AdCL) ao Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da Universidade de Aveiro e o relatório prévio foi hoje apresentado, em Monte Real, numa reunião da comissão de acompanhamento criada para avaliar a avaria na estação, os seus impactos e a necessidade de investimentos.
Em 12 de agosto, a avaria naquela estação, da responsabilidade da AdCL, levou à descarga de milhares de metros cúbicos de efluentes não tratados para o rio Lis, que desagua na Praia da Vieira, concelho da Marinha Grande, e em valas de rega.
Na ocasião, os banhos na Praia da Vieira foram interditados e o Município de Leiria desaconselhou atividades no troço do rio Lis a jusante de Monte Real, como captações para rega, banhos e pesca.
O relatório prévio adianta que a avaria na estação “provocou a inundação da instalação, originando a descarga direta de efluente para a ribeira das Várzeas, afluente do rio Lis”, com um caudal estimado entre 20 mil e 25 mil metros cúbicos.
Posteriormente, verificou-se a entrada em descarga de emergência da estação elevatória da Serra de Porto Urso, situada a montante, agravando o “impacto global do evento”.
A descarga acidental de efluente não tratado provocou um “acentuado aumento da carga orgânica nestes ecossistemas, com consequente redução do oxigénio dissolvido, mortalidade piscícola significativa e um fenómeno evidente de eutrofização”.
A primeira campanha de amostragem, à qual se referem os resultados e conclusões preliminares do relatório, decorreu em 09 de setembro e foi feita em nove pontos (rio Lis e duas valas de regadio, a montante de jusante da estação).
Segundo o documento, a observação ‘in loco’ “permitiu constatar sinais claros de recuperação, com diminuição da eutrofização e ausência de nova mortalidade piscícola, sem evidências de alterações na cor da água, degradação da vegetação ripícola ou deposição de resíduos nas margens”.
Outros indícios de recuperação incluem os parâmetros físico-químicos, que não revelaram diferenças expressivas, e os ensaios ecotoxicológicos, que não evidenciaram toxicidade aguda generalizada.
Do levantamento de biodiversidade que habita o leito do rio, “não se observaram diferenças significativas” nas algas, enquanto as comunidades de invertebrados “evidenciaram perda de biodiversidade a jusante do ponto de descarga”.
O relatório assinala, contudo, que tanto a campanha de setembro como os dados da AdCL relativos a campanhas anteriores e posteriores ao acidente na estação “evidenciam contaminação microbiológica recorrente no rio Lis”.
“A contaminação fecal neste troço do rio Lis não se limita” ao acidente na estação, “sugerindo antes um problema estrutural e persistente nos locais monitorizados”, acrescenta.
De acordo com o relatório, “a observação de valores elevados de E. coli e enterococos em vários pontos, incluindo a montante” da estação onde ocorreu a avaria, sugere “a presença de outras fontes de poluição difusa ou pontual, que deverão ser investigadas, para uma caracterização mais completa das pressões microbiológicas sobre o rio Lis”.
Integram a comissão de acompanhamento a Secretaria de Estado do Ambiente, Agência Portuguesa do Ambiente, Câmaras de Leiria e da Marinha Grande, Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria, Associação de Regantes e Beneficiários do Vale do Lis, Junta de Freguesia da Vieira de Leiria, União das Freguesias de Monte Real e Carvide e AdCL.












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