O 49.º Cinanima – Festival Internacional de Cinema de Animação de Espinho arranca na sexta-feira e apresentará mais de 430 filmes de 50 países, continuando a focar-se no tema da guerra, mas abordando também a revolta feminina e “muita solidão”.
É essa a descrição de André Ramada, coordenador de programação do evento que, na referida cidade do distrito de Aveiro e da Área Metropolitana do Porto, terá 110 filmes em competição, 16 dos quais na nova categoria “All Aboard”, que pretende “dar espaço à originalidade e exibir narrativas que, pela sua técnica ou temática, não se enquadram na competição normal, mas merecem destaque pelo seu arrojo”.
Em diferentes salas da cidade, as restantes 320 obras serão exibidas em sessões panorâmicas e retrospetivas, entre elas a que pela primeira vez apresenta um conjunto de filmes de cinema imersivo para apreciar a 360º na cúpula interior do Planetário de Espinho – como o retro-futurista “The Dark Side of the Moon”, com temas do álbum homónimo dos britânicos Pink Floyd.
Outras novidades da edição de 2025 são a exposição fotográfica dedicada a António Gaio (1925-1915), fundador do festival organizado desde 1976 pela Cooperativa Nascente, e a primeira sessão de ‘pitching’ na história do certame, para que ideias de projetos cinematográficos possam ser expostas em cinco minutos a profissionais do setor na expectativa de assim obterem financiamento e apoio técnico.
“Vai ser uma edição muito interessante e preenchida, mantendo-se a tendência de haver muitas histórias relacionadas com guerra e refugiados, de acordo com duas visões claras: a dos filmes que chamam a atenção para os perigos da guerra e a dos que respondem a esses conflitos abraçando a união, a diversidade, a tolerância”, declara André Ramada à Lusa.
Uma das retrospetivas incluída no programa é precisamente sobre a Palestina e integra filmes “feitos por mulheres e crianças nos campos de refugiados”, assim como obras de realizadores europeus solidários com a situação desse território devido ao conflito com Israel.
Sobre os outros temas dominantes na programação do 49.º Cinanima, o mesmo responsável aponta “a revolta das mulheres” – ou porque “estão fartas de guerra e miséria, ou porque recusam aceitar o que não está bem, ou porque deixaram de se submeter a vontades que chocam com o que elas querem” – e realça também “uma solidão cada vez mais evidente” – que antes se identificava sobretudo nos seniores, mas “agora se nota também nos jovens e até nas crianças”.
O programador do festival defende, aliás, que muita dessa “solitude” é exposta em obras autobiográficas: “Os realizadores jovens veem tanta tragédia no mundo que sentem que não há esperança. Às vezes isolam-se intencionalmente, outras vezes notam-se isolados sem querer, e isto reflete-se nas suas histórias, com muitas personagens sozinhas”.
Das 110 obras em competição, André Ramada destaca assim “Memory Hotel”, uma coprodução franco-alemã realizada por Henrich Sabl com recurso a marionetas filmadas na técnica ‘stop-motion’, para contar em 100 segundos a história de uma menina que em 1945 foge a uma frente bélica russa e acaba por se refugiar num hotel onde estão alojados dois nazis.
Também “Pelikan Blue” está a criar “muita expectativa” pela forma como, em 78 segundos, László Csáki retrata a aventura de três jovens que, face ao elevado custo de viajar na Hungria da década de 1990, falsificam bilhetes de comboio para poderem descobrir o seu país.
Outras obras recomendadas são: “Sulaimani”, ‘curta’ de 20 minutos da francesa Vinnie Ann Bose, combinando marionetas e pintura, sobre os conflitos de integração de uma mulher indiana a viver em França; “Shadows”, filme de 12 minutos da jordana Rand Beiruty, em desenho 2D por computador, com a história verdadeira de uma grávida adolescente a tentar fugir do Iraque; e “Ovary-acting”, coprodução surrealista entre Noruega, Suécia e Reino Unido para 12 minutos em modelação ‘stop-motion’ sob a direção de Ida Melum, sobre uma mulher que, depois de dar à luz o seu próprio sistema reprodutivo, tem que lidar com a pressão social relativa à maternidade e decidir se quer mesmo ser mãe.
Quanto à competição portuguesa, que este ano conta apenas com oito filmes, André Ramada salienta “Cão sozinho” de Marta Reis Andrade, “Saudade, talvez” de José-Manuel Xavier e “Porque hoje é sábado”, de Alice Eça Guimarães – que identifica como realizadora de “um dos tais projetos biográficos”, já que o filme conta a história de uma “mãe trabalhadora que, chegada ao fim-de-semana, se prepara para dedicar uns minutos a si própria, mas se vê continuamente interrompida por marido e filhos, sem descanso”.
“É uma situação em que muita gente se revê e o filme dá mesmo para rir”, garante o programador do Cinanima.












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