Um projeto de intervenção artística comunitária desenvolvido pelo grupo de teatro O Nariz em torno do forno de papel, abre-se ao público a partir de sábado em três localidades dos concelhos de Porto de Mós, Batalha e Leiria.
Aquela técnica de cozedura de cerâmica tradicional está em destaque nos três dias de atividades que a companhia de teatro programou para Mira de Aire, em Porto de Mós, São Mamede, na Batalha, e Monte Redondo, em Leiria.
Intitulado “Batendo em ondas contra a noite escura”, o projeto tem apoio da Câmara de Leiria, no âmbito da candidatura de Leiria a Capital Europeia da Cultura 2027, e é apresentado ao público pela primeira vez no sábado, na eira das Grutas de Mira de Aire.
Das 11:00 às 21:00 vai arder um forno de papel que cozerá um conjunto de peças de cerâmica, enquanto são apresentadas uma exposição de fotografia, uma paisagem sonora e são contadas histórias e tradições. Para acompanhar, há degustação de iguarias tradicionais, como tortulhos e morcelas de Mira de Aire e de São Mamede.
Desenvolvido junto de pequenas comunidades em territórios de baixa densidade populacional, o projeto de O Nariz tem percorrido o território de Mira de Aire, que inclui o Polje de Mira-Minde, as grutas e faz parte do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, recolhendo testemunhos, sons e memórias.
“Estivemos dentro de algares, de grutas, dentro de fábricas com barulhos ensurdecedores, fomos a nascentes, já ouvimos muitas pessoas e fomos ver muitas coisas que estão por Mira de Aire e que estão esquecidas”, contou à agência Lusa José Paulo Siphioni, ceramista que é um dos parceiros no projeto, a par dos grupos de teatro O Alguidar, de São Mamede, e Trupêgo, de Porto de Mós.
Foi na oficina do artesão, na aldeia de Alvados, em Porto de Mós, que um conjunto de convidados produziu as peças que vão ser cozidas nos fornos de papel.
O ceramista, que vai coordenar o processo de construção e produção dos fornos de papel, antecipa que será “espetacular e muito exaustivo, mas é místico ao mesmo tempo”, porque as pirâmides que vão arder podem chegar aos 1.150 graus e “é preciso jogar com a entrada de oxigénio” para controlar a temperatura.
“As peças que vamos fazer vão ter uma grande redução para ficarem do género das de Bisalhães ou de Molelos, mesmo escuras e, em algumas, vamos juntar a técnica japonesa de ‘raku’, que tem mais de mil anos”, acrescentou.
Enquanto os fornos de papel ardem, O Nariz apresenta o resultado do levantamento feito no território, através de imagens e de uma paisagem sonora criada a partir das recolhas pelo músico e produtor Nuno Rancho.
O presidente do grupo de teatro, Pedro Oliveira, contou que, das quase quatro de dezenas de pessoas ouvidas, ficaram sobretudo “muito as memórias sobre como era Mira de Aire e como é Mira de Aire”.
“A mudança é abismal: passou de um universo de milhares de pessoas”, durante o auge da indústria têxtil no século XX, “para um de centenas de pessoas” na atualidade.
Depois de Mira de Aire, “Batendo em ondas contra a noite escura” tem mais duas apresentações públicas, sempre com atividades em torno do forno de papel: no dia 18 de maio na eira do Casal Vieira, em São Mamede, Batalha, e no dia 19 de maio no Museu do Casal de Monte Redondo, em Leiria.











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